Resenha #72 — 'Revoltas Escravas no Brasil'; João José Reis e Flávio dos Santos Gomes (org.)

O post de hoje está saindo um pouquinho mais tarde, mas eu juro que vai valer a pena, principalmente se você é uma daquelas pessoas que ama conhecer e estudar a história do Brasil. Com dezesseis autores e autoras brasileiras, em sua maioria, mestres e doutores em História, o recebido do Time de Leitores de 2021 da vez é o livro “Revoltas Escravas no Brasil”. Vamos de resenha?

Revoltas Escravas no Brasil Companhia das Letras
Título: Revoltas Escravas no Brasil
Autores: Eduardo Spiller Pena, Flávio dos Santos Gomes, Iacy Maia Mata, Isadora Moura Mota, João José Reis, Luiz Geraldo Silva, Lara de Melo dos Santos, Luiz Felipe de Alencastro, Marcos Ferreira de Andrade, Maria Helena P. T. Machado, Mário Maestri, Paulo Roberto Staudt Moreira, Ricardo Pirola, Ricardo Tadeu Caires Silva, Thiara Bernardo Dutra e Yuko Miki. 
Organização: João José Reis e Flávio dos Santos Gomes
Páginas: 672 páginas
Editora: Companhia das Letras

Sinopse: Em 1888, a vitória da causa abolicionista, materializada por uma lei imperial, ajudou a propalar a mitologia histórica de que a libertação dos escravizados ocorreu sem lutas e derramamento de sangue. Os ensaios reunidos por João José Reis e Flávio dos Santos Gomes neste livro comprovam justamente o contrário. Embora a história dos quilombos já possua bibliografia ampla e bem estabelecida, as revoltas e conspirações nas senzalas, modalidade mais aguda e violenta da resistência negra, têm sido menos estudadas e compreendidas. Até a abolição, milhares de cativos e cativas se irmanaram para protestar e, na maior parte dos casos, resistir violentamente contra a tirania escravista. Reunião de ensaios que abordam os principais levantes e conspirações que solaparam o regime escravagista, Revoltas escravas no Brasil procura compreender as origens e anseios dos heroicos personagens que arriscaram a vida para resistir à opressão.

Revoltas Escravas no Brasil Companhia das Letras

Seguindo a mesma lógica de calhamaço do livro ‘Enciclopédia Negra’, que já apareceu por aqui, o post de hoje é uma pré-resenha. Com 672 páginas, o livro chegou por aqui no mês passado e ainda não consegui lê-lo. No entanto, a pré-resenha serve para apresentar o que o livro traz; sendo um livro de não-ficção, ligado diretamente à história do nosso país, torna-se muito importante trazê-lo por aqui, principalmente em épocas como essa que a gente vive. 

Como já comentei no início do post, o livro é uma antologia histórica com dezesseis autores e autoras, e tem como objetivo apresentar as diversas revoltas e insurreições que aconteceram pelo Brasil durante o período em que a escravidão era legalizada. Essas revoltas, pouquíssimo conhecidas e divulgadas, principalmente as das últimas décadas do regime escravocrata, contribuíram para a vitória da causa abolicionista. 


A coletânea visa quebrar a ideia, ainda muito propagada, de que a abolição foi pacífica e passiva por parte dos escravizados, que aguardavam pacientemente a boa vontade dos senhores de libertá-los. A assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, ação que a garantiu a fama de “salvadora dos pretos” não veio a partir de uma boa vontade e lapso de consciência, mas sim de luta, derramamento de sangue e resistência. Como é dito na orelha deste livro: 

Por meio de abordagens inovadoras, Revoltas Escravas no Brasil examina, entre outros aspectos da resistência coletiva, a influência do letramento escravo e das ideias em planos de insurreição, a contribuição das crenças religiosas para a luta pela liberdade, as alianças interéticas e a ausência delas, a combinação de gente livre, liberta e escravizada entre quilombos e reviravoltas. [...] O livro se dedica a entender os cenários, as origens, motivações e estratégias daqueles personagens que arriscaram a vida resistindo à opressão nas cidades, lavouras, minas e charqueadas das produtoras do esplendor e da miséria no país. 

Revoltas Escravas no Brasil Companhia das Letras

Organizado por João José Reis e Flávio dos Santos Gomes, que já apareceu por aqui como um dos autores de Enciclopédia Negra, um livro que também segue a lógica de narrativa histórica do nosso país. 

Sobre os organizadores deste projeto: 

João José Reis é historiador e professor da UFBA. Dele, a Companhia das Letras publicou, entre outros títulos, A morte é uma festa (1991), pelo qual recebeu os prêmios Jabuti (categoria ensaio) e Hasing (melhor obra historiográfica latino-americana), e Rebelião Escrava no Brasil (2003). Em 2017, pelo conjunto de sua obra, o autor ganhou o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras. 

Flávio dos Santos Gomes é historiador da UFRJ. Escreveu, entre outros livros, A hidra e os pântanos (2006), e O Alufá Rufino (2011), com João José Reis e Marcus J. M. de Carvalho. foi um dos organizadores de Dicionário da escravidão e liberdade (2018) e Enciclopédia Negra (2021). 


Em uma época onde a TV e a dramaturgia do país decidem romantizar aspectos históricos numa novela do horário das seis, a fim de minimizar dores e violências causadas à população negra brasileira e isto é visto como possibilidade passível, afinal, “é uma obra de ficção” (como eu já ouvi várias e várias vezes), livros como Revoltas Escravas no Brasil deveriam ser leitura obrigatória. Afinal, jamais se perdoaria livros que minimizassem o sofrimento do Holocausto ou a chacina que foi a ditadura militar neste país. Mas por que, então, uma dor histórica como a escravidão é passado o pano quando romantizada da forma que está sendo? 

Como eu costumo dizer: na fila da militância, a luta da comunidade negra fica por último. E não espanta ninguém.

E aí, já leu este livro?
O que achou da resenha? Conta pra mim! :)

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