Resenha #58 — 'Será que sou feminista?'; Alma Guillermoprieto

Mais um livro da parceria com a Companhia das Letras por aqui! Além dos livros físicos que serão enviados (e já começaram a chegar, você pode conferir a primeira caixinha de 2021 aqui) o grupo Companhia também disponibiliza ebooks para os parceiros. O livro dessa semana é curtinho, mas enorme em conteúdo e impacto. Vamos de resenha?

Sera que sou feminista Alma Guilhermoprieto Editora Zahar
Título: Será que sou feminista?
AutoraAlma Guillermopietro
Tradução: Eliane Aguiar
Páginas: 103 páginas
Editora: Zahar

Sinopse: Escrito por uma das principais jornalistas da América Latina, um manifesto corajoso, livre de doutrinas, para que possamos cada vez mais pensar (e viver) o feminismo em toda a sua diversidade. Alma Guillermoprieto dedicou grande parte de sua carreira a cobrir conflitos e movimentos sociais por toda a América Latina. Ao longo de sua trajetória retratou em crônicas e reportagens a história de mulheres comuns, sobreviventes dos mais diversos tipos de violência. Neste livro, ela reflete sobre sua própria posição como mulher e se questiona: Será que sou feminista? Sem a pretensão de ter todas as respostas, ela relata suas memórias quando jovem na machista sociedade mexicana e suas referências feministas; relembra encontros com líderes e ativistas; expõe sua visão da estrutura machista, racista e homofóbica que assassinou Marielle Franco; e tece ainda considerações a respeito do movimento #MeToo. Ao mesmo tempo em que evoca experiências pessoais, Guillermoprieto faz uma releitura das lutas históricas das mulheres, destacando avanços tão significativos quanto a pílula anticoncepcional e o direito ao voto, sem nos deixar esquecer do caminho árido que ainda há pela frente.

Alma Guillermoprieto é uma jornalista mexicana que já começa o livro apresentando o seu único texto explicitamente feminista, nas palavras da autora “uma denúncia apaixonada dos infames quadrinhos para homens que, na época, eram vendidos nas  bancas do país, cheios de desenhos grosseiros, ilustrando fantasias recorrentes de estupro e enganação”. Já no início do livro temos um apanhado da luta feminista como conhecemos, sejam debates sobre a presença de mulheres em cargos altos e específicos, funções no casamento, ter ou não filhos, etc. 


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Gosto de uma abordagem muito pertinente que Alma traz que é a necessidade que muitas pessoas acreditam existir de que mulheres declaradamente feministas devem falar sempre sobre feminismo. Muitas vezes, falar sobre a importância de mais mulheres em todos os âmbitos e áreas é uma pauta feminista, mas não necessariamente para que, dentro do ambiente em que desejam estar, as mulheres falem sobre feminismo. É como, sendo mulher e estando em posição X, priorizar a pauta é uma obrigação. Mas deve ser, mesmo?


Volto à pergunta: As feministas têm obrigação de fazer do feminismo sua preocupação prioritária? E, se não prioritária, pelo menos explícita? Creio que deve ser uma boa pergunta, mas não sei a resposta.


Com temas sobre a nudez feminina e pudor, a representação feminina nas artes, padrões de beleza, consumo estético e capitalismo, Alma aprofunda a discussão ao entrar em lutas que, pelo meu ponto de vista que tenho interesse em pautas específicas, não conhecia. Digo “específicas” pois, ao adentrar os estudos do feminismo, foquei no feminismo negro, brasileiro e nordestino para entender a luta das mulheres que são como eu. No entanto, é preciso entender contextos e recortes; muitas pessoas acham que dizer “feminismo branco, feminismo negro, feminismo indígena” é segregar um meio já segregado, mas eu acredito que é apenas entender as questões que envolvem a diversidade feminina. Somos plurais em objetivos e necessidades e isso precisa ser levado em conta. Não é porque algo não me atinge que não deve ser discutido e lutado. Acho importante frisar isso.


Sera que sou feminista Alma Guilhermoprieto Editora Zahar

O que me leva a outro ponto: conhecer o movimento, compreender a militância e estudar autoras que tratam do assunto é crucial para que mulheres e homens entendam o que é ser feminista. Cometemos erros ao longo do caminho e é preciso ter ciência disso. Já alcançamos muito, mas muito ainda falta ser alcançado. Logo, este livro também me ajudou a compreender a mim mesma como mulher feminista, onde errei ao longo do percurso e onde falhei com outras mulheres ao longo do caminho. Por isso, muito obrigada, Alma, por ter feito isso por mim sem o peso do julgamento. Com a era da internet, nós nos tornamos pessoas terríveis e isso precisa ser dito. Nós julgamos antes mesmo de compreender e oferecer a mão; afastamos pessoas que poderiam integrar ou apoiar a luta, seja ela qual for, mas por acreditar que ignorância ou contextos específicos são mau-caratismo ao invés de entender. Sei, também, que não temos a obrigação de sermos didáticas: já falei muito isso sobre lutas antirracistas e é um dos motes de vida. No entanto, nessa jornada que se é viver abraçada a uma ou a várias lutas, é preciso ter sensibilidade.


Um último ponto importante que o livro traz, também, é a ética feminista. Sobre isto, prefiro expressar através das palavras da própria autora que afirma “quando tento imaginar como seria uma ética feminista, penso sobretudo na tolerância, pois a intolerância leva ao ódio e à violência, da qual as mulheres são sempre as primeiras vítimas”. 


Será que sou feminista Alma Guilhermoprieto Editora Zahar


Como eu disse, o livro é gigante em conteúdo. Já falei tanto e, ainda assim, sinto que não falei o suficiente. Por isso, encerro reiterando: leiam este livro. As militâncias têm caminhado para discursos cada vez mais vazios baseados em discursos tão vazios quanto, precisamos trazer para nós o conhecimento e embasamento. E, se você deseja se encontrar no feminismo, esse livro é um bom começo.


E aí, gostou do livro? Já leu?

Conta pra mim o que achou!


12 Comentários

  1. É um livro bastante interessante, quando se fala em feminista, o tema é muito bom e importante para as mulheres, gostei muito do livro uma excelente indicação de livro bjs.

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    1. Oi, Lucimar!
      É verdade, precisamos muito conversar sobre o tema, mas sem apontamentos e sempre com tolerância!
      Beijos

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  2. Olá, Tudo bem?
    Não conhecia esse livro mas bastante interessante. Amei a resenha:)
    Bjs Karina

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  3. Tenho começado a ler sobre o assunto, e ao ver que ele aborda o feminismo sob o prisma da tolerância, já me interessei. Precisamos cada vez mais de conhecimento e diálogo.

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    1. É isso mesmo, Andrea! Precisamos ser tolerantes, entender o contexto de cada uma e sempre ciente de que somos pessoas passíveis a erros.
      Beijos!

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  4. Ótima pauta da obra, super em alta e tem que ser discutida mesmo, em pleno século 21 infelizmente. Avante mulheres!

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  5. Hoje muitas mulheres confundem muito o ser feminista, distorcem e mostram um feminismo que eu não concordo muito. Mas gostei muito do seu posicionamento e do livro....

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    1. É verdade! Precisamos ser tolerantes, ser abertas ao diálogo sempre!
      Obrigada pelo seu comentário!
      Beijos

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