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Foto: Valter Davi |
Quando, em uma conversa banal, o fato de ser escritora é mencionado — seja por mim ou por alguém próximo — sempre recebo reações variadas. É muito comum que enxerguem como algo extraordinário ou romantizado e há quem reaja com um olhar de lado, talvez acreditando que eu me compreenda como uma pessoa extraordinária ou acima das demais por ter a audácia de me nomear escritora.
Na grande maioria das vezes, eu apenas dou de ombros, falo dos meus livros, digo onde encontrá-los e sigo o caminho. Não que eu entenda a minha obra e trajetória enquanto escritora como algo banal, porque definitivamente não o é, mas ao mesmo tempo, não as entendo como algo a parte ou como algo a que devo ser ovacionada ou reverenciada por.
Escrevo porque não sei não escrever. A adolescente que fui, trancada em uma família religiosa e proibitiva, presa no interior do menor estado do Brasil, encontrou no lápis e no papel a oportunidade de ganhar mundo a fora.
Foi ela, essa adolescente confusa, sonhadora demais para a realidade que estava inserida, que decidiu não mais guardar aquilo que a atormentava dentro da própria cabeça — e descobriu, mesmo que de um jeito meio torto, que gritar pela ponta do lápis era um caminho possível.
E é uma coisa meio maluca porque não faço nada de mais no meu processo de escrita. Não uso incensos, não ouço música clássica, não fumo um charuto nem muito menos me utilizo de máquinas de escrever caras e retrôs — coisas que o imaginário popular associa a figura do escritor — mas uso óculos, se isso te conforta.
Escrever pra mim é tão natural quanto respirar. Essa crônica nasceu de uma conversa de whatsapp via áudio e a coloco pra fora às 14h08 de uma quinta-feira, terminando de almoçar no restaurante do outro lado da rua onde moro.
Porque não sei não escrever. Eu não sei viver num mundo onde eu não possa expressar qualquer sentimento que seja que não pelas palavras escritas ou digitadas. Escrever é parte do que eu sou. Antes de ser jornalista, com diploma, eu já era escritora. Porque eu fui e sou. E sempre serei.
Por isso, quando em uma conversa banal, o fato de ser escritora é mencionado — seja por mim ou por alguém próximo — as reações que se seguem não são, necessariamente, relevantes pra mim. Porque se este fato, se este substantivo, faz o outro pensar o que quer que seja sobre mim, isso é sobre o outro. O que pensa, o que vai interpretar disso, qual a análise que fará sobre mim, pouco importa.
Porque, no final do dia, eu continuo escrevendo.
E continuarei escrevendo.
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