04 de
Outubro de 2014.
Daegu – KR.
Eu sei que
não deveria estar fazendo isso. Perdoe-me pelo choque e provavelmente pela
forma que isso irá te afetar, mas realmente não aguentava mais fingir que
estava tudo bem sem saber de você. Pensei em enviar um e-mail, mas você sabe
como eu sou e preferi lhes escrever essa carta, o que talvez tenha tornado tudo
ainda mais confuso pra você.
Talvez ainda
estejas digerindo a forma como eu fui embora. Como uma tola, preferi não te
contar e ir para o outro lado do mundo sem lhes dar uma explicação. Foi
estupidez, eu sei. Quer dizer, nós tínhamos planos juntos. A minha mãe me ligou
logo na primeira semana e me disse como você havia reagido quando soube. Eu
sinto muito, mas precisei fazer isso. O Canadá não era mais lugar pra mim e eu
precisava me livrar dos meus pais. Amadurecer, viver a vida dos 25 anos que eu
tenho. A realidade aqui é completamente diferente da que nós vivemos aí. Minha
irmã e eu trabalhamos, dividimos contas, o apartamento é alugado, além de
Tiffany, nossa prima, morar conosco e também dividir as despesas. Eu sou adulta
aqui, coisa que nunca conseguiria vivendo na sombra dos meus pais. E, se eu
tivesse vivido ao seu lado como planejamos, eu viveria na sua sombra. Não estou
dizendo que você me impediria de ter o meu próprio emprego, mas o fato dos
nossos pais serem próximos acabaria dando no mesmo.
Aqui eu
estou fazendo meu nome como jornalista, sem a influência do meu sobrenome ou do
dinheiro que pertence a minha família. Eu, finalmente, estou sendo útil.
"Mas você sempre foi útil pra mim", você diria. E eu sei que fui.
Você, mais do que ninguém, me mostrou o que é ser útil. Porém, além disso, eu
precisava de liberdade. E foi essa a forma que eu encontrei de tê-la. Perdão
por só te dar explicações agora e por ser covarde o suficiente para não o fazer
pessoalmente. Você sabe que eu não teria coragem olhando diretamente em seus
olhos. Mas espero que você entenda. E saiba que todas as vezes que disse que te
amava, eu não menti. Na verdade, quando se trata de você, eu ainda não sei em
qual tempo verbal utilizar tal palavra.
Eu só peço
que seja feliz. Mesmo que essa felicidade não seja comigo, por uma escolha
minha. Prometo que a partir de agora, não te procuro mais. A não ser, é claro,
que você queira que eu o faça. O endereço é esse do envelope, o meu e-mail
continua o mesmo, o telefone está no verso. Se você ainda quiser largar o
emprego na empresa do seu pai pra montar aquele estúdio musical, me
procura.
Daquela que costumava ser sua,
HW.
2 Comentários
Apenas acho que essas cartas que você posta devem voltar mais e mais vezes. Adorei as duas que ja apareceram por aqui.
ResponderExcluirSó uma coisa, pq a fonte não aparece no Chrome? /chorosa
Né? Ai, eu amo escrever cartas, sejam elas reais ou fictícias. ♥ Como assim, não aparece no chrome? Que merda. :( vou verificar isso, moça, e obg por avisar.
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