SOBRE


Nascida em 30 de março de 1995, numa maternidade que já não existe mais, Carla Thiarlley Santos Valadares aprendeu cedo o significado da palavra racismo. Vinda da junção de uma família parda e outra majoritariamente negra, Thiarlley, como sempre fora chamada, carrega nos cabelos cacheados, nariz largo e boca carnuda, a negritude que a pele mais clara maquiou.

Do lado da família parda, ouviu que era até bonita, apesar de escura. Na escola, fora eleita a garota mais feia da turma e seus cachinhos foram alvo da maldade racista impregnada nas outras crianças. Com 9 anos, viu Taís Araújo ter sua cor comparada ao pecado e a pequena Thiarlley, ao olhar seus braços e notar a semelhança do sua tez com a pele da atriz, perguntou-se o que poderia ela, tão nova, ter feito de errado para se tornar uma pecadora pela cor. Aos 15 anos, alisou os cabelos e junto queimou parte de si. Dizia que queria ter nascido branca e que, se pudesse, afinaria o nariz. Na boca, usava batons claros a fim de ofuscá-la.

Sua dor a ensinou a escrever. Colocava no papel o grito preso na garganta. As páginas dos cadernos deram lugar às páginas na web e a plataforma blogger serviu de espaço para compartilhar seus escritos. Leitores surgiram, parabenizando-a e a incentivando. Ao fim do ensino médio, a escolha do curso já não era um problema: ela amava escrever e o faria pelo resto de seus dias.

Na faculdade de jornalismo, conheceu pessoas que abriram seus olhos. Fizeram-na amar o que enxergava no espelho. Os fios queimados deram lugar aos cachos cheios, o nariz não era mais um problema e a boca passou a ser admirada, portando os mais diversos tons de batom.

Já não escrevia só dor. Escrevia paixões, sonhos, amores. 
Escrevia sobre si e sobre o mundo. 
E o mundo ei de escrever sobre ela.




Ter um blog é algo engraçado. Por que ter um lugar para compartilhar experiências? Parece exposição demais, inútil demais. Afinal, neste mar de informação que é a internet, fazer-se conhecido dentre as plataformas e www é realmente complicado. O Apenas Fugindo começou, com um nome bobo o qual não lembro, como um espaço de adolescente repleto de baboseiras da idade, unicamente porque, em 2009, ter um blog era in. Hoje, é parte de mim. As coisas vão bem quando o blog está bem. Planejamento e cuidado têm sido a base para o crescimento que, gradativo, faz de mim feliz e completa. Em sua essência, porém, permanece sendo um lugar para se afastar de tudo aquilo que pareça monótomo. Um espaço para se desviar apressadamente dos julgadores e preconceituosos. Para bater em retirada daquilo que sufoca, esquivar-se do que lhe incomoda. Fugir, é ir em busca de um refúgio.  

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