Enquanto arrumava alguns
livros na bagunça do quartinho da
minha casa, encontrei uma pequena fotografia em preto e branco, desgastada com
o tempo. Uma garotinha de vestido curto, com a calcinha folgada a mostra e
grossas perninhas de fora; de cabelos curtos e meias até os joelhos, tinha
olhos de choro e cabelos curtos. No verso, uma pequena dedicatória com falhas
na pontuação e erros ortográficos, demonstravam o pouco estudo da pessoa que o
havia feito.
“Alicia” é a minha mãe,
que na verdade se chama Alice. A letra, é do meu avô. José André de Menezes
Neto faleceu em 28 de Abril de 1986, quando a minha mãe ainda tinha catorze
anos, o que significa que eu não cheguei a conhece-lo. Sempre ouvi histórias
sobre ele, como não tinha tanta autoridade sobre os filhos e mandava a esposa
bater nos mesmos; “Deixe até a sua mãe saber disso”; As peripécias entre ele e
“o alice de pai”, como chama a minha mãe; As grosserias de quando estava
bêbado, como a bebida o levou a morte pouco depois dos quarenta anos.
A presença masculina
“idosa” sempre me faltou, já que meus dois avôs morreram antes de eu nascer.
Todo o contato que tive com ambos, fora por meio de conversas dos outros e
fotografias. Encontrar essa dedicatória foi como se ele tivesse me entregado a
foto como lembrança. Foi como se, estivéssemos ambos, encarando a foto da minha
mãe e ele me contasse do ela aprontara naquela idade e risse; fizesse alguma
brincadeira sobre as grossas perninhas e depois lamentasse, sentindo saudades
daquela época.
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