Estávamos
sentados de qualquer jeito no seu sofá de molas. A sua perna estava em cima de
mim então aproveitei aquele momento para perceber que os seus pelos era meio
lisos, meio encaracolados. Eu gostava da sua falta de padrão. Então quando você
acabou de engolir a última pipoca do balde que te comprei na nossa última saída
juntos você me fitou com esses olhos que causam medo e pronunciou. Eu não ouvi,
ou me recusei a ouvir, não posso chegar a uma conclusão, apenas me lembro de
vê-lo fazer aquilo com o canto da boca e se levantar, segurar as minhas mãos e
beijá-las.
Peguei
o meu casaco que havia jogado horas antes no chão do quarto e saí. Não havia
mais nada para mim ali. Enquanto descia as escadas o ouvi chutar a mesinha de
centro e depois cair no chão. Tomara que não tenha se machucado - não gosto
quando sofre. Ao chegar no portão, minutos depois, percebi que havia caído um
pingo de chuva no meu rosto. Era tudo que eu precisava, uma cena dramática
estava sendo formada e eu era o protagonista, como sempre fui em todas os
momentos ruins que passamos juntos. Mas não mais.
Percebi
aquela árvore a metros de distância da sua casa, ela não deixava os pingos
chegarem ao chão, então sentei junto as suas raízes. Os meus joelhos estavam
colados ao meu rosto e os meus braços estavam formando um nó em volta das
minhas pernas - apertei com tanta força que o resultado foi uma falta de ar
momentânea. Os meus pulmões precisaram de um comando consciente para
transportar oxigênio para o meu organismo, organismo o qual estava desistindo.
Aconteceu
tudo ao mesmo tempo, as lágrimas que se misturavam as gotas que conseguiram
atravessar as folhas da árvore, o barulho de milhares de palmas, os meus
soluços, o nosso último momento juntos - deitados na cama de lençóis azuis,
pois eram os seus preferidos. Pude sentir os seus lábios sendo agressivos e se
encaixando nos meus como peças de quebra-cabeça...
Eu
já estava completamente encharcado quando me pus de pé e comecei a andar em
direção a lugar nenhum. Desejei que esse tal lugar fosse o mais perto possível
porque talvez eu não aguentaria dar nem mais um passo sabendo que tinha deixado
para trás. Sem lutar. Não me daria ao
trabalho.
Orientei
cada passada direita, esquerda, direita, esquerda... até chegar na esquina onde
te vi pela primeira vez. Aquele lugar me fez parar por um instante. Eu lembro
exatamente o que você estava fazendo, o que vestia, como estava o seu sorriso e
nada daquilo mais fez sentido por um minuto inteiro. Esse minuto inteiro foi
mais do que suficiente para que eu revivesse tudo novamente, cada gargalhada,
cada olhar misterioso, cada sinal que você dera dias antes.
E
embora a sensação de derrota esteja me cobrindo como um velho e confortável
casaco de frio, chegaria o tempo em que eu o tiraria de mim para a chegada de
um ar mais quente e permanente.
Escrito por: Ramilton Barbosa.
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2 Comentários
apenas uma correção "fui em todas" não seria todos?
ResponderExcluirEm principio achei o texto meio confuso, mas se analisarmos pelo ponto de vista de um termino a confusão faz sentido, já que são muitos sentimentos emaranhados. Então, pensando assim, foi um belo texto.
A ideia era deixar o momento conturbado, sem direção, pois era assim que o personagem se sentia, talvez isso tenha causado a confusão. Quanto a correção acho que o erro de digitação foi o vilão. Seria "como sempre fui em todas (as cenas) dos momentos ruins que passamos juntos".
ExcluirObrigado,
Ramilton Barbosa.