Foto: Ian Ricardo |
A história que aqui começa não é das mais inéditas.
O “patinho feio” que se torna no belo cisne é tão batido em
hollywood e na literatura que já até perdeu a graça. Mas, quando o patinho feio
percebe que não tem a necessidade de se tornar um cisne para os outros, mas que
se torna um cisne por si mesmo, por amor a si mesmo, para amar quem é, talvez o
enredo pareça mais agradável.
Nunca imaginei que poderia, um dia, influenciar pessoas por
conta da minha aparência. Nunca imaginei que, um dia, eu poderia dizer não ao
que me era imposto e dizer “eu sou linda sim” sem a necessidade de me parecer
com alguém e/ou me falsificar. Sem a necessidade de fazer o que quer que fosse
para ser aceita.
Quando em 2013, ao me olhar no espelho, eu decidi que
mudaria, não foi pensando em alguém. Não foi pensando no que A ou B pensaria a
respeito ou o que C e D diriam ao me verem com os cabelos naturais. Não passei
dois anos na transição capilar para agradar outra pessoa além de mim.
Quando olhei no espelho e decidi que já tinha passado da
hora de mudar, eu estava pensando em mim.
Talvez seja por isso que eu não tenha criado expectativas acerca
disso. Não pensei nos comentários agradáveis e de incentivo, pois eu sabia que
eles não viriam. Não pensei nos comentários maldosos e desnecessários, mesmo
sabendo que estes sim viriam, porque não fariam diferença. A força que me foi
dada por Deus foi alta o suficiente para que eu acreditasse que sim, eu
venceria aquela transição. Sozinha.
“Você diz que Deus te deu forças em algo tão pequeno? Que
absurdo!”
Não se trata só de cabelo. Trata-se de aceitação.
Amor-próprio. Alegria naquilo que Ele me deu ao me criar e por anos foi negado
por um estereótipo que não me valia de nada. “Criado à sua Imagem e
Semelhança”. Eu fui criada a sua Imagem e Semelhança e não há problema algum em ser do modo que sou.
Ao encarar o reflexo e ter ciência do peso dessa passagem e da forma como eu
dava as costas à ela, pedi perdão ao Pai por tê-lo magoado. Por ter negado a
forma que Ele me deu. O corpo que Ele me deu. Pedi perdão ao Pai por tê-lo negado, ao negar quem eu era.
E então O agradeci por ter me aberto os olhos.
Não pedi para exercer a influência que eu exerço hoje por
conta dos meus cachos. Mas também não me importo de conviver com ela. Ajudar
meninas e mulheres que desejam passar pela mesma transição é a coisa mais
gratificante que eu pude e posso fazer.
Alguns dias atrás postei uma selfie aleatoriamente, após ter feito as fotos de um evento. E devo dizer
que a encarei por muito mais tempo que o necessário para uma foto de si mesma.
O sorriso que eu trazia no rosto era de satisfação, de alegria, de vitória. O
sorriso que eu trazia no rosto ao encarar a foto citada era de felicidade. E
enquanto recebia as notificações dos likes
dados pelos amigos, apenas uma frase ecoava na minha mente:
“Não existe outra pessoa
no mundo inteiro que eu quisesse ser, senão eu mesma”
E hoje, ao completar 21
anos de idade, não sou eu queria ser na adolescência.
Sou quem eu quero ser.
Seja bem-vindo, 21.
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