CONTO ― Um pouco de chá e muito o que se estudar


Era sábado e ao contrário do que a maioria dos jovens fazia naquele horário, a moça estava em casa atolada de papéis, livros, cadernos e anotações. O computador portátil em seu colo tinha algum ebook aberto e ela tentava anotar as partes importantes, para facilitar o aprendizado do assunto.

Céus, como ela odiava o fim de semestre.

Não que fosse a pessoa mais estressada do mundo, mas não tinha como NÃO se estressar. Parecia que os professores combinavam um complô contra seus alunos, deixando todos os trabalhos e provas para a mesma semana, fazendo seus queridos graduandos abdicarem de noites de sono e descansos. A garota pensava se um dia ela poderia se vingar. Não necessariamente em seus professores, mas alguém precisava pagar por aquele sufoco todo. E, no fundo, ela sentia pena de quem quer que fosse receber o seu esporro num futuro próximo.

O quarto parecia um cenário de guerra diante da desorganização causada pelos seus estudos e ela parecia concentrada demais para notar que a campainha tinha tocado. Os olhos eram fixos na tela do laptop e, quando a campainha tocou de novo, ela quase deu um pulo da cadeira e se permitiu xingar mentalmente a visita indesejada. Podia ser sua mãe, mas ainda assim, ela xingaria pelo susto.

Ela pensou seriamente em não atender, mas se a pessoa havia sido permitida na portaria sem a necessidade de avisá-la, então era alguém conhecido e ela não poderia fingir que não estava em casa. Suspirou e lentamente ergueu-se da cadeira, caminhando sem pressa até a porta. A campainha tocou novamente, duas vezes seguidas.

“Mas que diabo”.

A mão girou a maçaneta e ela já pensava nas desculpas que daria para a visita ir embora o mais rápido possível, para que voltasse aos seus estudos, quando sacolas de supermercado foi estendidas na sua direção e um sorriso largo lhes fora direcionado. Tinha que ser aquele maldito sorriso, com dentes perfeitamente brancos e alinhados, somado àquele cabelo escuro e liso, jogado levemente para o lado e cobrindo parte da testa.

 - Eu sei que você está estudando, mas antes que me expulse, –  “Até parece que eu ia te expulsar”, pensou ela. – Eu só vim te fazer companhia por meia hora de descanso e depois eu vou embora. – O olhar dele era de súplica, os lábios até se formaram em um pequeno bico. Ela riu.

- Tudo vai depender do que tiver dentro dessa sacola… – Ela fez cara de interesse enquanto encarava a sacola e então a pegou das mãos do outro, dando espaço para que ele passasse.

­         - Indian Chai, alguns bolinhos e pizza. Porque claro, eu sou um ótimo namorado.  – Ele deu de ombros e esboçou uma expressão convencida, fazendo-a arquear uma sobrancelha.

- Vai ser um ótimo namorado se preparar o chá pra mim e colocar a pizza pra esquentar. – O bico agora adornava os próprios lábios, até inclinou a cabeça, fazendo os longos cabelos escuros deslizarem pelo ombro. Ele não deixou esse detalhe passar despercebido. Adorava aqueles cabelos longos, assim como adorava tudo nela.

- Tá, quando é que você não ganha, mesmo? – Ele deu de ombros e pegou a sacola das mãos dela, fazendo-a rir e dar-lhe um beijo rápido nos lábios. Porém, ele foi mais rápido e a puxou pela cintura, fazendo daquele contato algo mais profundo. As mãos dela foram a nuca dele e o puxaram, fazendo com que as mãos masculinas pressionassem o local onde seguravam, fazendo-a sorrir durante o beijo.

- Okay… depois disso eu acho que posso deixar os meus trabalhos de lado, mas por pouco tempo. – Ambos sorriram e ele aproveitou para capturar o lábio inferior, puxando-o para si.

- Sendo assim, vai ter que me ajudar na cozinha… – A voz era praticamente um sussurro, ela riu de novo.

- A ferver o leite para o chá e esquentar uma pizza? Você me envergonha.  – A cabeça negou levemente, uma das mãos foi até a testa, lamentando.

- A pessoa não pode nem dar uma desculpa pra ficar mais tempo com a namorada, tempos difíceis… tsc tsc.

Eles riram juntos e, com o braço esquerdo em volta da cintura dele, ele a guiou para a cozinha, puxando as mangas da camisa enquanto recolhia o material necessário para fazer o que havia dito. “Como se fosse fazer grande coisa”, pensou ela, mas ficou quieta.

Deixou-se apenas observar o homem que amava andar de um lado para o outro na cozinha, tentando mimá-la naqueles dias de loucura.

E, com um sorriso no rosto, ela percebeu que ele era, de fato, o melhor namorado do mundo.

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Textinho feito sabe Deus quando para a amiga Priscila em um momento bem cheio na faculdade, numa tentativa de animar a vida da moça. Achei perdido no drive e postei. Just like that. 

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