Voltamos a temporada de posts literários do Time de Leitores com GRANDE estilo. Publicado pela editora Zahar, ‘Dispositivos de Racialidade’, é a tese de doutorado de Sueli Carneiro, filósofa brasileira e grande nome quando se fala sobre as discussões de raça e gênero. Vamos de resenha?
Título: Dispositivo de Racialidade: A construção do outro como não ser como fundamento do ser
Autora: Sueli Carneiro
Páginas: 432 páginas
Editora: Zahar
Sinopse: Neste que é um dos livros de filosofia política mais relevantes escritos no Brasil, Sueli Carneiro oferece uma interpretação contundente do racismo e uma defesa de seu enfrentamento sempre pelo coletivo, onde o cuidado de si e o cuidado do outro se fundem na busca da emancipação. Quase duas décadas após ter sido defendida na Faculdade de Educação da USP, a tese de doutorado de Sueli Carneiro chega na forma de livro com grande atualidade. Nele, a autora aplica os conceitos de dispositivo e de biopoder de Michel Foucault ao domínio das relações raciais, forjando o que chama de dispositivo de racialidade ― que produz uma dualidade entre positivo e negativo, tendo na cor da pele o fator de identificação do normal, representado pela brancura. Especulando com Foucault e amparada na teoria do contrato racial do afro-jamaicano Charles Mills, ela demonstra como este dispositivo se constitui em um contrato que não é firmado entre todos, e sim entre brancos, e funda-se na cumplicidade em relação à subordinação social e na eliminação de pessoas negras. Ele também se efetiva pelo epistemicídio, cujo objetivo é inferiorizar o negro intelectualmente e anulá-lo como sujeito de conhecimento. Contudo, todo dispositivo de poder produz a sua própria resistência, e é nesse contexto que a filósofa traz à obra a voz de quatro insurgentes. Seus testemunhos revelam que é da força da autoestima, da conquista da memória e da ação conjunta que se extrai a seiva da resistência.
Nascida em 1950, na cidade de São, Paulo, Sueli Carneiro é escritora, ativista, filósofa e doutora em Educação pela USP. É cofundadora do Geledés - Instituto da Mulher Negra e um dos principais nomes quando se fala sobre as discussões de raça e gênero no Brasil, é autora dos livros “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil” (2011) e “Escritos de uma vida” (2019). Em 2022, recebeu o título de doutora honoris causa pela UnB. Você pode conhecer a história dela na biografia “Continuo Preta: a vida de Sueli Carneiro”, escrita por Bianca Santana e publicada pela Companhia das Letras.
Publicado quase vinte anos após sua defesa na Faculdade de Educação da USP, a obra “Dispositivos de Racialidade” mantém-se atual, propondo uma análise das relações raciais a partir dos conceitos de dispositivo e biopoder de Michel Foucault. Obviamente, é um livro de leitura densa, com muitas referências e que deve, sim, ter a nossa atenção. Gosto do fato de ser publicado por uma editora de prateleira e não por uma editora acadêmica, pois faz com que o livro alcance mais pessoas fora do meio acadêmico. Mesmo sendo um livro mais denso, é importante que esteja disponível para quem quer ter essa leitura.
Sueli Carneiro explica como este dispositivo se constitui em um contrato racial que não é firmado entre todos, mas somente entre brancos, e se fundamenta na cumplicidade em relação à subordinação social e na eliminação de pessoas negras. Ela se utiliza desse conceito de dispositivo de racialidade para ilustrar a dualidade entre positivo e negativo que é produzida por meio da cor da pele, tendo a branquitude como fator de identificação do ‘normal’.
A obra, no entanto, não se limita a analisar o poder opressor, mas também apresenta testemunhos de quatro vozes que resistem a esse sistema e traz, também, como a autoestima, a memória e a ação conjunta são importantes para a construção da resistência e da luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
Em "Dispositivos de Racialidade", Sueli Carneiro propõe uma reflexão profunda e necessária sobre as relações raciais e de gênero em nossa sociedade. É uma leitura fundamental para quem deseja compreender as questões raciais e de gênero em sociedade.
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