Me reencontrando em antigas páginas

Na última sexta-feira, meu livro 'Não é o que Parece', completou dois anos de lançamento. Enquanto relembrava algumas publicações no Instagram para celebrar essa data, me vi saudosa daquela fase da minha vida. Dos cinco livros até agora publicados, o que mais vivi a experiência do lançamento foi 'Não é o que Parece' que, não ironicamente, foi o último que lancei. Revi vídeos, reli resenhas, gaitei ao relembrar meu surto e sofrimento com o delay na disponibilização do livro, enfim.

Depois de sexta, enquanto aproveitava um sábado de folga para não fazer nada que fosse relativamente relevante, resolvi fazer algo que há muito não fazia: reler as minhas obras. Não sei se apego, saudosismo, prepotência ou se gosto de me torturar, mas houve uma época que eu fazia muito isso, inclusive com textos não publicados. Passei por aqui, reli crônicas recentes e tirei a poeira do meu kindle, disposta a consumir o trabalho de Thiarlley Valadares.


E foi em meio a playlist de 'Amor em lugares fechados' e a fatídica cena de um nariz (quase) quebrado que eu me vi gaitando com cenas que foram escritas por mim. E, de repente, parecia 2010 de novo: eu, uma página do word, ideias fervilhando e uma possível carreira de escritora nascendo nas páginas digitais do Lollipop Fics. Em determinado momento, em um diálogo adolescente que não tinha a intenção de dramatizar, eu me vi chorando com as confissões de Madison porque, algo que eu descobri muito cedo, sempre houve e haverá um pouquinho de mim em cada personagem. 

Quando percorri as páginas de 'Não é o que Parece', tive flashes de como a história começou, a aleatoriedade da escolha do nome, como os insights vieram e como Ágatha Simões veio a este mundo para me ensinar sobre amor próprio, respeito aos próprios limites e a necessidade de não dar atenção a visão embaçada que os outros têm de nós. E foi entre os acordes de i want it that way dos backstreet boys e box in a heart do the maine que eu soube o que me incomodava há tanto tempo e eu não conseguia compreender. Até agora.

Na busca de pertencer, de existir, de sobreviver, eu cresci demais. Eu não enxerguei o quanto a vida adulta me engoliu e em meio ao trabalho, os boletos, o dinheiro na poupança e a economia de água, eu me perdi. Pareceu sútil, como a primeira formiga a encontrar a abertura do armário até o pacote de açúcar, até que, sem perceber, dezenas de formigas invadem o espaço e ou você resolve aquela bagunça ou a casa é tomada por muito mais.

Li certa vez que a única pessoa que virá te salvar é a versão de você mesmo que está cansada da situação atual e não poderia concordar mais. Existe uma Thiarlley desesperada para me tirar desse lugar e disposta a tirar da minha mente as críticas nada construtivas, as correções que não foram solicitadas e as opiniões pré-definidas. Essa Thiarlley sabe que eu presto, apesar de a Thiarlley atual, essa que vos escreve, ainda ter certas dúvidas.

Mas uma coisa é certa: Thiarlley é ariana. E ela já está de saco cheio dessa versão (do ascendente em câncer) que mais chora do que age e foi por isso que Thiarlley, essa que existe aqui dentro e está desesperada para me tirar desse lugar, decidiu agir. E, como boa ariana que ela é, Thiarlley jogou na minha cara, de modo nada sútil, que a jornada até aqui começou com o único objetivo de agradar, de preencher o vazio e de buscar a felicidade de uma única pessoa: eu mesma. 

E se no meio do caminho, por qualquer razão que seja, o protagonismo dessa jornada foi dado à outra pessoa, eu que lute, porque Thiarlley já deixou bem claro a que veio. E ela vai usar todos os artifícios possíveis para me tirar daqui.

1 Comentários

  1. Crônica excelente! Realmente, reler textos antigos sempre nos leva a refletir, né? Esses dias, ressuscitei uma crônica antiga, que escrevi no dia do meu aniversário de 20 anos, lá em 2015 (socorro, já faz tanto tempo assim??). Fiquei surpresa com o quanto ainda gostava daquelas palavras e adorei me lembrar de como a Andy (que naquela época, não aceitava ser chamada de "Andy", só de "Andressa" mesmo) daquela época escrevia sobre tudo o que via. Depois disso, coloquei como meta começar a escrever mais daquele jeito. Vamos ver se consigo ♥

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