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Foto: Pinterest |
Esses dias, em um evento de comunicação, eu e um amigo também jornalista encontramos um jovem estudante da área que nos confessou ter ido pelo caminho da comunicação após ter nos visto trabalhando. Para o jovem estudante em seu segundo ano de universidade, ter visto Diogo e eu em ação em meio à visitas à obras e em inaugurações no interior do litoral norte, foi importante para que ele tivesse certeza de que queria trabalhar com aquilo.
Para Diogo e eu, que vasculhamos a nossa memória para lembrar a data mencionada pelo jovem e recordar que foi um dia difícil, pesado e carregado, a primeira reação foi o choque. Como pode aquele dia, justo aquele dia, ter sido tão horrível pra nós e tão crucial para o futuro daquele jovem? Em seguida, nós achamos, no mínimo, engraçado, porque a vida tem dessas coisas: da dualidade de sensações e percepções da mesma situação.
E depois que fizemos as piadas mais infames a respeito, depois de termos seguido cada um pra sua casa, enquanto eu finalizava meu cabelo e ele terminava uma atividade do mestrado, foi que a ficha caiu e, em meio aos áudios de WhatsApp, nós entendemos.
Só nós sabemos a nossa trajetória e o que acontece nos dias mais difíceis e escuros. Só nós sabemos onde e porque dói, e, por isso, sendo nós aqueles que mais sabem do que se passa quando a noite chega, é difícil enxergar para além dos momentos de renúncia, de sacrifício e de cansaço.
Como pode eu, essa pessoa quebrada e exausta, ser inspiração para quem quer que seja? Como pode eu, essa pessoa ainda incerta sobre a vida, ainda confusa sobre quais passos tomar, ter sido ponto de virada na vida de outra pessoa?
A conta não fecha, mas talvez, a conta não precise fechar. Porque a vida não é linear e muito menos exata. E depois dessa análise em meio uma mecha de cabelo e outra, a sensação foi de que, em algum momento, em algum lugar, valeu a pena.
Quando mulheres negras, escritoras e leitoras, chegam até mim dizendo que fui “referência” para suas escritas e leituras, principalmente após o Mulheres Negras e Literatura, eu me sinto estranha. Que mundo é esse que alguém decidiu que eu poderia estar na mesma lista que Conceição Evaristo, Angela Davis, Sueli Carneiro?
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Publicação no Instagram do perfil @dayescreve |
Talvez porque aquela mediocridade que eu insisto em enxergar no espelho só é vista pelas minhas lentes. E de vez em quando, a vida precisa enviar um jovem que me viu em meio ao caos de uma agenda de trabalho no dia 31 de março de 2023 e, mesmo naquela loucura, ele olhou pra mim e pensou “eu quero ser como ela”.
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