Resenha #1 — A arte de escrever; Arthur Schopenhauer

Autor: Arthur Schopenhauer
Tradução: Pedro Süssekind
Páginas: 169 páginas
Editora: L&PM pocket
Arthur Schopenhauer (1788-1860) é um dos mais importantes filósofos alemães. Ele achava que o mundo nada mais era do que uma representação formada pelo indivíduo. Influenciou Freud, Nitzsche e Bergson com seu pessimismo foi o responsável por introduzir o budismo à metafísica alemã. Foi além do idealismo kantiano e tinha em Hegel seu principal opositor. Suas obras mais importantes são O mundo como vontade e representação (1819) e Parenga e Paralipomena (1851).Nesta antologia de ensaios recolhidos de Parenga Paralipomena, o leitor vai encontrar textos que trazem as mais ferinas, entusiasmadas e cômicas reflexões acerca do ofício do próprio Schopenhauer, isto é, o ato de pensar, a escrita, a leitura, a avaliação de obras de outras pessoas, o mundo erudito como um todo. São eles: "Sobre a erudição e os eruditos", "Pensar por si mesmo", "Sobre leituras e os livros" e "Sobre a linguagem e as palavras". Embora redigidos na primeira metade do século XIX, estes ensaios, ao tratar sobre o mundo das letras, os vícios do pensamento humano, as armadilhas da escrita e da crítica, continuam válidos – hoje talvez mais do que nunca. E, marca personalíssima do autor, são modernos, pulsantes de vida, de inteligência e humor.



         O livro 479 da L&PM pocket possui capa bem elaborada, chamativa desde a primeira vista. O nome, somado a belíssima capa, faz com que o leitor, ao primeiro momento, pense que a edição trará dicas e macetes para melhorar sua própria escrita, ou que fará alusões aos grandes nomes da literatura mundial, fazendo um paralelo entre eles e nós, meros escritores do século XXI, no início da carreira.

         Quem comprou com essa intenção, sugiro que nem leia.
        
         Em todas as suas 169 páginas, tudo o que Schopenhauer faz é criticar a atual literatura alemã e seus escritores. E, por mais que tenha sido escrito na primeira metade do século XIX, continua válido, principalmente nos dias de hoje. O autor critica, da forma mais cômica possível, desde leitores, escritores, eruditos e críticos. Fala da banalização da escrita e do descaso com obras clássicas, além de citar a redução de palavras, pontuação, e displicência nos escritos.   
         No capítulo “Sobre a erudição e eruditos”, Schopenhauer aborda que eruditos e pensadores são completamente diferentes, uma vez que eruditos escrevem apenas aquilo que já leram em livros de outras pessoas. Já os pensadores, falam daquilo que viveram, que aprenderam diretamente no livro do mundo. Classifica a república dos eruditos como egoísta, onde “cada um procura promover a si próprio para conquistar algum reconhecimento, e a única coisa com que todos estão de acordo é em não deixar que desponte uma cabeça realmente eminente, quando ela tende a se destacar, pois tal coisa representaria um perigo para todos ao mesmo tempo.”1
         “Pensar por si mesmo” fala dos perigos da desorganização do conhecimento. O pensamento próprio deve vir antes de todo o conhecimento adquirido seja por livros ou da vida. “Pois é apenas por meio da combinação ampla do que se sabe, por meio da comparação de cada verdade com todas as outras, que uma pessoa se apropria de seu próprio saber e o domina”.2O pensamento, ao contrário do aprendizado, deve ser atiçado, ocupado por algum interesse nos assuntos para os quais se volta. Segundo o autor, a leitura impõe ao espírito pensamentos que até então são estranhos e heterogêneos, enquanto o pensamento segue o próprio impulso, tal como está determinado no momento. “[...]Apenas os pensamentos próprios são verdadeiros e têm vida, pois somente eles são entendidos de modo autêntico e completo. Pensamentos alheios, lidos, são como as sobras da refeição de outra pessoa, ou como as roupas deixadas por um hóspede na casa.”³ O capítulo também aborda os muitos escritos iguais e entendiantes, provenientes desses pensamentos alheios ao invés do pensamento próprio. 
         “Sobre a escrita e o estilo” já começa dividindo os escritores em dois tipos: os que escrevem em função do assunto e os que escrever por escrever. “Os primeiros tiveram pensamentos, ou fizeram experiências, que lhes parecem dignos de ser comunicados; os outros precisam de dinheiro e por isso escrevem, só por dinheiro.”4 Schopenhauer ainda se arrisca, dizendo que dentre os melhores autores de sua época, é possível encontrar exemplos de que “escrevem para encher papel”. O capítulo também faz referência ao anterior, sobre aqueles que escrevem por aquilo que já leram, tornando-se cópias de outras obras. “[...]Há três tipos de autores: em primeiro lugar, aqueles que escrevem sem pensar. Escrevem a partir da memória, de reminiscências, ou diretamente de livros alheios. Essa classe é a mais numerosa. Em segundo lugar, há os que pensam enquanto escrevem. Eles pensam justamente para escrever. São bastante numerosos. Em terceiro lugar, há os que pensaram antes de se pôr se por a escrever. Escrevem apenas porque pensaram. São raros.”5 
       Arthur nos alerta em “Sobre a leitura e os livros” explicando que quando lemos, deixamos de pensar e nossa mente se enche de pensamentos alheios. É por isso que a nossa escrita tende a se assemelhar a do autor do último livro que lemos ou que estamos lendo. Por isso, deve-se ter o cuidado de ler o quanto o quiser, desde que a forma empregada ou até mesmo o conteúdo lhes influencie 100% a ponto de transformar você e sua escrita, variando toda vez que mudar de exemplar ou de autor. “[...]Em consequência disso, quem lê muito e quase o dia todo, mas nos intervalos passa o tempo sem pensar nada, perde gradativamente a capacidade de pensar por si mesmo – como alguém que, de tanto cavalgar, acaba desaprendendo a andar. Mas é este o caso de muitos eruditos: leram até ficarem burros.”6
          “Sobre a linguagem e as palavras” é um pouco mais técnico, enfatizando interjeições, verbos, substantivos e pronomes, além da importância das idiomas antigos e línguas “mães” das nossas atuais. Demonstra-se totalmente contra a traduções, afirmando que por mais perfeita e literal que seja a tradução, nunca é possível produz exata e perfeitamente o mesmo efeito. “Poemas não podem ser traduzidos, mas apenas recriados poeticamente; e o resultado é sempre duvidoso. Mesmo na prosa, as melhores traduções chegam, no máximo, a ter com o original uma relação semelhante à que se estabelece entre uma certa peça musical e sua transposição para outro tom.”7
         Apesar de todas as críticas, as broncas banhadas em hipérbole e os sermões, A arte de escrever é de extrema importância para quem deseja se tornar escritor, ou que de certa forma, já se nomeia um. Você vai encontrar várias opiniões suas a respeito de grandes obras hoje publicadas que, assim como você, para Arhur Schopenhauer não se deve receber o nome de literatura. Assim como receberá os puxões de orelha dados por ele, gargalhará com as tiradas cômicas e, acima de tudo, perceberá que de muito vale prezar por uma boa escrita.



Arte de Escrever, A; Arthur Schopenhauer; Tradução de Pedro Süssekind; L&PM Pocket, livro 479; Porto Alegre – RS; 2012    

Citações 1: pg 28; 2: pg 39; 3: pg 41; 4: pg 55; 5: pg 57; 6: pg 127 e 128; 7: pg 150

4 Comentários

  1. Arrasou migs, achei esse livro 10/10, super digno ter um!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. HUAHAUHAUH migs, é 10/10 mesmo! Morria de rir quando lia certas coisas, ele é muito sem freios pra falar mal do pessoal, principalmente dos eruditos! A senhora compra um, hein, senão quando eu for pra SP eu te empresto o meu <3

      Excluir
  2. A priori, vendo só a capa e o título, achei mesmo que fosse ser algo como o que vc descreveu no começo kkkk Mas bastou ler a sinopse "no fundo" e me animar mais, pq caara, é melhor ainda /o/
    Super gostei de sua review nessa indicação, me deixou com mais vontade ainda de ler. Se bem que não me encaixo nem em aspirante à escritora e menos ainda em autonomear assim. Mas quem sabe eu consiga, mesmo que pouco, perder esse ar de dissertativo-argumentativo.. vai que, né? kkk
    E apesar de ainda não conhecer nada de Schopenhauer, ele parece ser um moço muito cool x]

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, quem nunca! HAUAHUAH Ah, mas acho que mesmo sendo só leitor, é sempre bom a gente ler esses livros destinados para escritores e tal, sempre bom saber de tudo um pouco. Ele é alguma coisa de psicologia é bem divertido, bom, pelo menos nesse livro xD

      Excluir