CONTO ― O sorriso


Já se passava das nove da noite e tudo o que ela queria era deitar-se na sua cama e só levantar no mês seguinte. Sabia que a vida de assessora empresarial não era a das mais calmas, mas o mês de agosto parecia o mais propenso a eventos e, consequentemente, a mais cansaço. Os sapatos de salto fino pareciam já fazer parte do seu corpo e as dores nos pés eram ignoradas com cada vez mais frequência. O último arquivo foi salvo, o computador desligado, um suspiro aliviado saiu dos lábios e ela finalmente se levantou, rumando a saída daquele prédio. Era sempre a primeira a chegar e a última a sair, mas no fim das contas, ela amava aquele trabalho. Os passos eram rápidos, o elevador foi o seu destino. Já dentro, as mãos procuraram freneticamente pelo aparelho celular dentro da bolsa. Ao achá-lo, um número já conhecido foi discado. 

Chamou até cair. 

"Droga! Você tinha que deixar esse celular no silencioso", pensou ela. 

Diante do horário já ultrapassado, dispensaria a carona do namorado e procuraria por um táxi, afinal, ele também tinha seus afazeres e a empresa a qual trabalhava não era a das mais folgadas, também. Chegou ao térreo e os passos já rumavam a saída do lugar, quando notou um ser extremamente conhecido, sentado no banco da recepção e sendo vigiado pelo segurança. Uma risada baixa lhe escapou dos finos lábios e tentou fazer o mínimo de barulho possível para chegar até ele. 

 Encostado ao estofado do banco, de pernas estiradas e braços cruzados, seu namorado dormia ao esperá-la. Tão sereno como uma criança após um longo dia de brincadeiras no parque. Ela encarou o segurança e pediu desculpas em tom baixo, recebendo um menear que dizia "sem problemas". Sentou-se ao lado do homem de roupas sociais que cochilava e repousou ambas as mãos em seus braços, tocando-lhe cuidadosamente. 

 - Psiu! - o tom era baixo, a risada que lhe escapara logo em seguida também fora. 

Ele se remexeu levemente e fez uma reclamação, arrancando mais risos da outra. A mão esquerda feminina foi de encontro ao rosto do outro e leves tapinhas foram dados ali. Os olhos dele se abriram devagar, como se não quisessem fazer aquilo e ao se depararem com a imagem dela, perceberam que era o certo a se fazer. 

- Bom dia! - disse ele, suspirando uma vez e se aproximando dela, repousando o rosto na curva do pescoço feminino. - Só mais cinco minutos. 

 - Se você resolver ficar só mais um, o segurança te expulsa daqui. - Apesar da frase em si, o tom fora divertido, fazendo-o rir. 

 - Se eu não precisar levantar daqui pra isso, acho que vou esperar ser expulso. - E as mãos passaram pela cintura fina da outra, trazendo o corpo alheio para mais perto de si e aproveitando do contato por curtos segundos. Em seguida, levantou em súbito, trazendo a mulher consigo, já que ainda a segurava pela cintura. 

Aos risos, ambos saíram do prédio rumando o carro dele. Ela fazendo brincadeiras sobre o cochilo inesperado, ele avisando que se vingaria. Já no carro, ao se sentar e afivelar o cinto, sentiu um olhar pairando sobre si. O rosto virou para ele e a interrogação na sua mente desaparecera no momento que o sorriso do outro fez parte do seu campo de visão. 

No fim das contas, qualquer dia exaustivo valeria a pena se continuasse a ter aquele sorriso ao fim do dia.

2 Comentários

  1. Gente quanto açúcar!
    E isso não foi uma reclamação, pois a pessoa aqui morre de diabetes mas morre feliz.
    Adorei o texto bolinho!

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    1. "Morre de diabetes, mas morre feliz" HAUAHAUH que bom que você gostou, sua linda! <3 A senhora inclusive estava fazendo falta por aqui, viu

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