CONTO ― Chocolate e café



Sentada no canto do sofá, ela mais parecia uma estudante do primeiro semestre diante da quantidade de papéis ao seu redor. Cadernos, livros, anotações em post its e até mesmo em guardanapos compunham todo o acervo de sua pesquisa. E por mais que aquilo soasse como algo estressante, muito pelo contrário, tudo só se tornava ainda mais interessante e prazeroso para a moça que se via ainda mais deslumbrada com o tema escolhido.

Na mesinha de centro, uma caneca vazia com marcas marrons dentro demonstravam que anteriormente havia chocolate quente ali. Uma tigela, apenas com farelos de cor clara que informavam que o bolo já tinha sido consumido e com muito gosto. Já se passavam das onze da noite e ela parecia concentrada demais para notar que o tempo havia passado ou que alguém tinha acabado de chegar.

Silencioso como sempre, ele adentrou o apartamento e deixou as chaves no suporte ao lado da porta. Apesar de não morar ali, era praticamente o segundo dono do lugar. Os pés, desleixados, tiraram os sapatos e encostaram-nos a parede, metodicamente. A passos largos ele se dirigiu a cozinha, deixando a mochila sobre o balcão e já sabendo o que deveria fazer. A garota se desligava do mundo quando envolvida nos trabalhos e tinha plena certeza que a última refeição feita tinha sido antes de ele sair.

Duas canecas de bebidas foram feitas: uma de chocolate quente, outra de café. Nunca havia entendido como ela conseguia NÃO gostar de café. Mas respeitava, afinal, ninguém é perfeito. Ao que finalmente estavam prontas, o rapaz saiu em direção ao grande sofá que mais parecia uma biblioteca, diante da quantidade de exemplares ali presentes. A garota, que permanecia atenta ao que fazia, notara a presença do outro assim que o cheiro das bebidas pairou pelo local, mas fingiu-se de desentendida. Esperou para que ambas as canecas fossem colocadas sobre a mesa de centro e então sorriu, puxando alguns dos livros ali presentes e deixando um curto espaço vago no sofá.

- Você demorou. - Disse ela, olhando por cima dos óculos quadriculados e achando que intimidava daquele jeito. Ele apenas riu.

- Nem todo mundo tem a dádiva de estar no segundo TCC. - Suspirou ao relembrar os perrengues que ainda passava na graduação, sentando-se ao lado dela e passando o braço direito ao redor dos ombros alheios, apoiando o braço no estofado. Ela riu.

- "Dádiva" não seria bem a palavra que alguém usaria pra adjetivar um TCC, mas tudo bem. - O corpo se fez confortável com a presença do outro e então se curvou, pegando a caneca que trazia sua bebida e deixando que o maravilhoso sabor do chocolate adentrasse a garganta.

- Meu Deus, quem usa "adjetivar" no meio de uma conversa informal? - Ele riu alto, claramente tirando sarro da mania que a outra tinha de falar sempre corretamente. Ela apenas rolou os olhos e usou do cotovelo pra empurrá-lo. Ele riu novamente e apenas esperou que a caneca fosse novamente colocada na mesinha por ela, para usar dos dois braços e puxá-la para mais perto de si, num abraço apertado. Em meio aos risos, a moça se fez confortável nos braços do outro.

- Vai acabar isso aí logo ou eu vou ter que reivindicar a atenção de vossa pessoa? Porque sinceramente... - A frase era terminada com manha, chegou até a formar um bico nos finos lábios, ela arqueou uma sobrancelha, o que só fez o teatro do outro mais forte.

- Eu ia dizer que ia precisar fazer mais, porém o chocolate quente já pagou pela atenção. - O corpo se virou minimamente, demonstrando que sua atenção agora seria da bebida, mas o rapaz foi mais rápido e puxou-a para si novamente, fazendo-a rir.

- Deixa de ceninha, menina. - E aos risos, os lábios da outra foram capturados de forma delicada, em uma tentativa clara de demonstrar a saudade do curto tempo que passaram distantes.

A pesquisa seria deixada de lado por um tempo, mas não faria mal, afinal, o motivo era pra lá de plausível.

2 Comentários

  1. Eu já disse que amo esses textos com feeling de apê e amorzinho? E awww *gay*
    E amei sua narração, a delicadeza e a forma tão "em casa" com que ela se desenrola. Fica natural e gostosinho de ler. Adorei.
    xx

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    1. Já disse sim, mas pode dizer quantas vezes quiser! ♥
      Gosto quando consigo passar essa ideia de delicadeza e tranquilidade, fica gostosinho de ler, né? Af.
      Obrigada, pelo elogio e pelo comentário, sua linda! <3

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