Meu livro tem que ter representatividade?

O post de hoje é com polêmica logo cedo, pois é sempre bom para movimentar as coisas. HAHA vi alguns tweets sobre o assunto e, sendo eu uma autora que prioriza personagens não-brancos nos meus livros, resolvi trazer essa questão para o blog e conversar com vocês.

Respondendo de forma direta e sem uma análise profunda: não, você não tem obrigação de colocar representatividade no seu livro. Como autor(a), você é livre para escrever como quiser e isso vale para todos os pontos de sua história. No entanto, você precisa arcar com as consequências de se ter um livro com ou sem representatividade.

Como o público reage à representatividade nos livros?


Nos últimos tempos, o público se tornou mais seletivo e crítico com o que consome, em todos os segmentos. Marcas que não se posicionam correm o risco de serem boicotadas e, consequentemente, perder clientes. A mídia, em todas as áreas, está de olho na representatividade, pois representar comunidades garante identificação e, como consequência, garante clientes. 


É importante saber que o público não ficou mais diverso com o passar dos anos, mas teve voz coletiva para dizer "isso nós não queremos" e, logo, não consomem. Entender esse ponto é importante para saber que: sim, você pode não colocar representatividade no seu livro, mas esteja ciente de que ele pode não atrair a atenção de públicos específicos justamente pela falta dela.


Escrevendo com vivência vs escrevendo para o público


Vindo das fanfics interativas, escrevo personagens femininas negras, pois comecei escrevendo protagonistas que se pareciam comigo, que eram como eu. Isso foi natural ao longo dos anos e não as escrevo porque vendem (até porque não necessariamente vendem, mas isso fica para outro post), mas porque era o que eu gostaria de consumir estando do outro lado da obra, como leitora.


Vale também analisar um ponto: você, mesmo que não se enquadre em nenhuma ou em poucas minorias, está rodeado(a) de pessoas que fazem parte de vários grupos, certo? O mundo é diverso. Escrever um livro sem representatividade pode ser, inclusive, inverossímil. Trazendo a minha experiência, eu sempre tive dificuldade em escrever personagens LGBTQIA+, por achar que não era o meu lugar de fala ou por medo de cair em estereótipos. Enquanto conversava com um amigo, ele disse "você pode escrever personagens secundários sem se preocupar com o mito do melhor amigo gay. Não seria pior perceber que, em suas histórias, pessoas LGBTQIA+ não existissem?".


Isso me colocou a pensar e, sim, de fato: foi muito pior perceber que meus livros não retratam a realidade do ponto de vista da diversidade e tenho tentado mudar isso nas próximas publicações. É importante saber que você não precisa “lacrar” (como dizem por aí) com personagens. Ser minoria não precisa ser, necessariamente, o único plot do seu personagem.


Como escrever representatividade?


Assim, chegamos a outro ponto: ok, você entendeu que representatividade é importante, em vários pontos, e você se importa. Que bom! Respirou fundo e decidiu colocar diversas minorias no plot da história. Ótimo! Mas faça isso com responsabilidade. Reconheça que você não sabe tudo, esteja disposto a aprender, acompanhe pessoas que falem sobre o tema escolhido. Existem pessoas que fazem leitura sensível, isto é, que prestam um serviço de análise sobre temas delicados abordados no seu livro. Representatividade, em todos os níveis, entra nesse ponto ‘delicado’. Você pode contratar serviços como esse, por exemplo.


E o mais importante: não pense que está fazendo um favor a comunidade em questão por falar sobre ela. Além disso, caso alguém detecte um deslize na sua obra acerca do assunto, aceite com coração aberto (se a crítica for construtiva, é claro). Lembre-se: você entrou num terreno que não está habituado(a). É normal cometer erros. Apenas respire e tentar melhorar da próxima vez. Estamos todos em constante aprendizado. Além disso, colocar representatividade no seu livro não garante que a comunidade em questão adore o seu livro. Reflita: as pessoas são plurais, dentro e fora das comunidades. Algumas pessoas vão gostar e outras não. E tudo bem.


E aí, devo colocar representatividade no meu livro ou não?


Representatividade é importante e precisamos falar sobre ela. A literatura contemporânea tem sido espelho de sua geração e, eu espero, que cada vez mais minorias façam parte das páginas dos livros. Se você analisou a sua obra e percebeu que talvez não seja tão necessário diversificar seus personagens, que talvez isso não seja crucial para a sua história,  tudo bem. Siga em frente e busque seu público e repito: esteja preparado(a) para receber críticas sobre essa falta.


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