Posso ser a vilã da sua história


Sou bastante fissurada em signos. Não sei se o fato de ser uma ariana nata com muita praticidade e pouca paciência ou se caio no conto diário da astrologia, mas o fato é que eu adoro ver todos os tipos de memes ligados ao signo do meu jeitinho arianjo de ser. E foi em um desses memes que caí recentemente ao compartilhar em um grupo de amigos; qual personagem de filme é cada signo e áries era, sem surpresa alguma, o vilão (junto com capricórnio e aquário, mas esses dois eu não vou elaborar).
 
Primeiro, eu soltei uma gaitada gostosa — primeiro porque sabia que coisa boa não ia vir e depois porque, ora essa, mas que calúnia! E depois de rir com as reações dos amigos do grupo citado, me lembrei de uma conversa que tive com os amigos já mencionados em um dos nossos encontros semanais de "papo cabeça" e reflexões.
 
A gente sempre vai ser o vilão de alguém (e independente do nosso signo ou não credulidade da astrologia). Às vezes com motivo, às vezes não, o fato é que em algum lugar e em algum relato, a gente sempre vai ocupar o espaço de pessoa má que destruiu a vida ou os sentimentos do outro.
 
E talvez, realmente, a gente tenha destruído o sentimento do outro, mas talvez a gente só tenha imposto um limite. Ou, quem sabe, dito verdades não tão fáceis de serem ditas e digeridas. Talvez a gente estivesse no lugar errado e na hora errada e, por isso, o enredo de vilão foi criado e fixado na memória da outro. Ou, ainda, a gente só não supriu as expectativas do outro; mesmo sabendo que fez tudo certo, que disse o que deveria dizer, que foi claro o quanto pode, a gente não fez o que outro queria — não seguiu o script que ele roteirizou. E, por isso, nasceu um vilão.
 
Às vezes a gente fez o bem, até. Mas, não preparado para ouvir, o outro se coloca na defensiva e interpreta a boa intenção como uma ofensa, um ataque.
 
E, por muita vezes, eu me coloquei nesse lugar de medo, de receio de ser uma vilã. Após ter dito e feito coisas como boa ariana e sincera que sou, me coloquei num sentimento de culpa ao perceber a recepção negativa do outro (e isso, é claro, só poderia ser o meu ascendente em câncer). Mas não importava o quanto eu me explicasse ou tentasse fazer o outro entender o meu ponto, meu lugar de vilã já tinha sido decretado. E eu ficava péssima, acuada, às vezes até me permitindo viver ou experimentar situações desconfortáveis apenas para desocupar o lugar de vilania que me fora dado.
 
Percebo que hoje não ligo. Talvez seja a idade ou talvez sejam só as experiências da vida que se amontoaram e se amontoam que me fazem entender que tudo bem ser a vilã de alguém, desde que eu saiba as razões para tal: se, de fato, poderia ter sido melhor, me cabe repensar minhas ações e falas, buscar um jeito diferente de agir. Agora, se fiz o que pude, se impus meus limites, se fiz aquilo que era condizente comigo e com a situação e, mesmo assim, o cajado e os chifres de malévola me foram entregues, talvez não seja sobre minhas ações em si, mas sobre a recepção do outro. E isso eu nunca vou poder ter controle.
 
Tá tudo bem ser vilão de vez em quando. E, se me permitir escolher qual posso ser, fico na dúvida entre Killmonger de Pantera Negra ou Ele de As Meninas Super Poderosas. Felipe soltou aqui o Bola de Neve de Pets: A vida secreta dos bichos, mas achei tendencioso.

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