Não, você não está lendo errado: é mais um livro de autoajuda neste blog e quero adiantar que vai valer a pena, não desista dessa resenha ainda! A parceria com o Grupo Companhia das Letras deste ano rendeu alguns livros mais diferenciados que costumava receber nas parcerias anteriores, o que é bom, pois me faz ler livros diferentes do que estou acostumada e este querido aqui é a prova que, às vezes, é bom dar uma chance. Vamos de resenha?
Uma das primeiras coisas que a autora Pooja diz no livro é: a palavra “autocuidado” foi esvaziada e eu não poderia concordar mais. Os mais diversos tipos de produto são vendidos com a promessa de fazer bem, pois é “o seu tempo consigo, o me time, autocuidado”, o que nos levar a comprar planners, produtos de skin care, pílulas de emagrecimento, óleos essenciais, tudo com a desculpa de que estamos nos cuidando.
No entanto, tudo isso nos frustra porque, obviamente, não resolve o problema. Cuidar de si mesma e da própria saúde mental envolve ações a longo prazo. Pooja é médica psiquiátrica e que, frustrada com o meio médico, fez parte de um grupo focado em prazer feminino que, logo depois, mostrou-se uma seita que a usava para validar seus métodos. Estando no “8 e 80” e experimentando o lado cético e o lado crédulo, a autora nos mostra a importância de cuidar de si mesma a longo prazo, entendendo quem é, quais as dores e traumas e como pode se curar.
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Um outro ponto importante desse livro é que Pooja o escreve direcionado a mulheres, por entender que o recorte de gênero é importante nessa análise: mulheres são mais cobradas do que os homens para que tenham tudo sob controle. Além disso, ela também faz recorte de raça, classe e orientação sexual, entendendo que o sistema por si só nos desfavorece e espera de nós, mulheres, coisas semelhantes, mas ao mesmo tempo distintas, a depender que tipo de mulher nós somos. Pooja Lakshmin é uma mulher racializada e, aqui, mostra a importância que nós, mulheres racializadas ou de outras minorias, damos a tais recortes. E é preciso, sim, compreender que eles existem e são fundamentais.
Quando, no subtítulo do livro, lemos “sem cristais, purificações ou banhos de espuma” não quer dizer que você deve se livrar disso, caso goste. Se isso te faz bem, vá em frente! No entanto, a análise do livro é justamente para entender que tais coisas não vão resolver seu problema. O verdadeiro autocuidado é um processo profundo de autorreflexão, envolvendo a tomada de decisões baseadas em valores pessoais. Autocuidado é impor limites, saber dizer não ou aceitar ajuda quando necessário, aceitar descansar, compreender a raiva, a culpa e entender a nós mesmas. E, principalmente, autocuidado é buscar ajuda profissional quando for preciso, seja ele uma psicoterapia ou um acompanhamento psiquiátrico. O livro busca não apenas ensinar aos leitores como cuidar verdadeiramente de si mesmos, mas também como contribuir para melhorar a sociedade e questionar os padrões que causam danos.
Se você é uma pessoa que gosta do uso de exemplos, marcar listas e responder questões, o livro é repleto de questionários práticos, exercícios de reflexão profunda e dicas detalhadas para construir um padrão de autocuidado personalizado, de acordo com o que você precisa, afinal, o que tem sido cada vez mais difícil de entender diante das inúmeras ofertas de cursos, metas e da vida perfeita que vemos na internet, é: o que funciona para um grupo de pessoas, não necessariamente vai funcionar com você. E o livro é muito claro sobre isso.
Em "Autocuidado de Verdade" Pooja Lakshmin transcende o conceito simplista e esvaziado do autocuidado como uma tendência passageira e se torna uma ferramenta poderosa para a transformação pessoal e social. A autora oferece uma abordagem acessível e sustentável, guiando os leitores em direção a uma revolução tanto a nível individual quanto coletivo. É uma leitura que traz clareza sobre o significado genuíno do autocuidado e nos encoraja a enfrentar os desafios internos e externos, buscando uma vida mais autêntica, sem culpa, e satisfeitas com nós mesmas.
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