Romances fofos com finais felizes

Esses dias uma autora nacional me seguiu nas redes. Abri pra saber se a conhecia e uma frase do perfil me chamou a atenção:

Romances fofos com finais felizes.

Essa simples e curta frase me trouxe uma reflexão que não é nova e muito menos extraordinária, mas que, pelo menos uma vez, atinge uma de nós com uma sensação incômoda e, ao mesmo tempo, aliviante.

"Romances fofos com finais felizes" destinados ao público feminino incomoda tanto e, principalmente, fazem as mulheres serem vistas como infantilizadas porque os homens estão tão acostumados a serem felizes naturalmente que a ideia de terem que buscar isso na arte soa ridícula.

Afinal, o que é a sociedade em si senão a manutenção de uma felicidade, nas pequenas ou nas grandes coisas, masculina? É tudo sobre eles, o tempo todo, ao mesmo tempo que nada é por eles, porque bem, quando pensamos em alguém que sabe exatamente o que fazer numa crise, 90% de nós pensa numa mulher — uma mãe, uma vó, uma irmã, uma amiga, nós mesmas.

Crescemos tão cientes de que o nosso objetivo final era fazer um homem feliz que, por muita vezes, esquecemos de nós mesmas. E quando buscamos essa felicidade na literatura, no cinema e na arte num geral — quando desejamos o frio na barriga e o arrepio secundários, vistos em terceira pessoa, somos tidas como infantis, problemáticas, mulheres imaturas.

Porque afinal, é muito mais fácil nos tachar de imaturas por conta dessa busca de felicidade ao invés de, realmente, desfocarem um pouco daquilo que sempre os beneficiou, o tempo todo, para nos tratar com o mínimo de respeito, não é mesmo?

Não à toa, livros escritos por mulheres são entendidos como "literatura feminina", independente do gênero, quando homens escrevem "literatura" única e simples, independente do gênero.

Segui de volta a autora em questão porque amo romances fofos e com finais felizes, já escrevi alguns deles. Já escrevi romances fofos e trágicos, já escrevi não romances e não há problema algum nisso. E por mais que homens e algumas mulheres ditas evoluídas (as ditas i'm not like the other girls, look) tentem nos diminuir por buscarmos nas artes aquilo que nos foi e nos é tirado dia a dia (e adicionados os abusos, assédios, desrespeitos e feminicídios), escrever romances fofos e com finais felizes tende a ser uma resistência, a máxima do nós por nós em sua mais pura essência.

Que possamos, sim, ler e escrever cada vez mais romances fofos e com finais felizes.