CRÔNICA | O meio termo

Foto: tumblr

         Muita coisa nos é ensinada ao longo da vida de forma bem contraditória. Somos ensinados, por exemplo, que existem dois estágios na vida: ou você está muito ferrado ou você está transbordando felicidade. E isso se aplica a toda e qualquer situação.

         Ou o seu namoro é um completo fracasso ou é um relacionamento tão perfeito que daria um filme.

Ou o seu curso é um completo lixo e não vale a pena termina-lo ou é o melhor, 100% compatível com você.

Ou o seu emprego é uma merda que te adoece ou o emprego dos sonhos, com um salário incrível.

Ou são 8 ou são 80.

E é complicado quando, ao nos depararmos com as situações acima (ou com qualquer outra) e percebemos que nada faz sentido e que, na prática, é completamente diferente, não sabemos como lidar.

É frustrante, na verdade.

Porque um namoro perfeito pode ser superficial. Pode não haver diálogo, amor de verdade.

Porque um curso 100% compatível, às vezes, frustra ao tirar uma nota inferior ao esperado. Ao não ser tão boa numa disciplina que, aparentemente, era a SUA cara.

Porque o emprego dos sonhos também pode estressar – e bastante!

O emprego dos sonhos, na verdade, pode nem existir.

E, assim, nós não sabemos lidar com o meio-termo. Nós não sabemos compreender que existem altos e baixos, problemas em situações confortáveis, dias tranquilos em situações conturbadas. Ou entender que pode existir o melhor que o pior já enfrentado, mas ainda assim, não melhor o bastante.

O meio termo é, de fato, um pé no saco.

Mas às vezes é um aprendizado.

É só entendermos que ele existe. E que está tudo bem passar por ele, desde que não nos conformemos. “Já esteve pior antes”, não quer dizer que está bom, não nos enganemos. Mas lutemos para que o melhor chegue.

Sabendo que até o melhor dos melhores, às vezes, também é um pé no saco.

Escrito originalmente em 10 de julho de 2018

6 Comentários

  1. Tenho entendido a cada dia que é possível encarar os pontos baixos da vida de frente. Sentindo, respeitando, se respeitando. O grande problema em não saber lidar com isso está quando a química do cérebro tá tão bugada que a percepção das coisas se perde no vazio. E tudo parece ser sentido de forma bem maior. Depois disso, se passa a sentir só o que dói. Aí é hora de pedir ajuda. Enfim... é bacana perceber isso antes que as coisas se desalinhem.Enquanto as coisas são facilmente reversíveis. Quando vira patologia o bicho pega.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade, Yago! Eu passei muito por isso no ano passado, e esse ano vivi e vivo exatamente o que tratei no texto, estou no limbo do meio-termo."Tá ruim, mas tá bom", sabe? E não saber lidar com esses dois tipos de estado é muito complicado, principalmente se a situação em questão for emprego, como foi e tem sido o meu caso. Tenho tentado seguir e viver um dia de cada vez. :P

      Excluir
  2. No mais, gostaria de reforçar que seus textos (seja crônica, seja conto, seja fábula) são muito necessários!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que coisa mais maravilhosa de se ler justo nessa semana! ♥♥ Fico muito feliz e grata com o seu comentário, de verdade!

      Excluir
  3. Hey hey! Demorei, mas estou aqui. Demorei porque a minha "faculdade dos sonhos" estava me massacrando. Hahaha! Realmente, o que você disse aí é bem verdade. Vide o fato de que eu AMO meu curso, de coração, mas tem dias em que eu me pergunto porque ainda não desisti dele. Eu sou muito a favor dos sonhos, sabe? Adoro um ideal. Na verdade, eu acho que sou uma das pessoas mais sonhadoras que eu conheço. Mas é preciso saber olhar para a vida e saber que às vezes, mesmo em meio ao sonho, haverá um "porém". E que está tudo bem nisso. Um dia ruim não significa uma vida ruim. Um meio-termo às vezes é só isso: um meio-termo.

    Mas da mesma forma que é preciso manter o pé não chão e não sonhar demais, também é importante não ser negativo. Eu tenho convivido com certa pessoa (você sabe quem) que ao mesmo tempo em que é a pessoa mais sonhadora e idealista que eu conheço, é a pessoa mais pessimista do mundo. A frase preferida dele é "A vida é uma merda", e às vezes, muitas vezes, eu preciso lembrar a ele que ela não É. Talvez ESTEJA, mas não É. Talvez em um aspecto, as coisas estejam difíceis, mas há muito de positivo por aí também.

    Enfim, eu acho que a ideia é mesmo encontrar um equilíbrio, ne? Eu gosto do meio-termo. Em vez de estagnação e conformidade, ele me passa uma noção de harmonia. Meu jeito taoísta (a filosofia do ying-yang) de ver o mundo combina com o meio-termo.

    Ótima crônica, girl! Me fez pensar em muita coisa! =)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Hello mais uma vez! :P Eu acho que a ideia é justamente compreender que o meio-termo existe e, caso viva nele, compreender que tá tudo bem ficar no meio-termo por enquanto. Porque o meio-termo é necessário, inclusive. Fazendo uma analogia meio ridícula, o meio-termo é tipo as partes "calmas" das histórias que ligam momentos cruciais. Podem ser consideradas okay, mas são importantes e, sem elas, a história fica sem nexo. Acredito que o meio-termo ainda seja necessário para que a gente valorize o ótimo - quando este chegar.

      Faz esse menino entender que tá tudo bem a vida estar uma merda agora, mas logo logo fica bem, e depois fica merda de novo. Porque é a vida, né? Uma turbulência constante com momentos de calmaria. (:

      Excluir