Resenha #39 — 'Da Minha Janela'; Otávio Júnior

Se você acompanha o blog, sabe que nos últimos meses tenho dado chance a literatura infantil, incrivelmente rica e que ensina muito adulto a ser uma pessoa melhor. O último livro recebido pelo Grupo Companhia das Letras neste mês foi o “Da Minha Janela”, lançado no segundo semestre de 2019 e publicado pelo selo infantil do grupo, a Companhia das Letrinhas. 

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Título: Da Minha Janela 
Autor: Otávio Júnior 
Ilustração: Vanina Starkoff 
Páginas: 48 páginas
Editora: Companhia das Letrinhas
Sinopse: O narrador deste livro narra cada coisa, pessoa e animal que vê da sua janela em uma favela do Rio de Janeiro. Dela ele vê cores, traços, gestos, objetos e bichos cujas vidas podem ser parecidas ou diferentes da sua, mas com certeza têm algo a ensinar. Com uma narrativa sensível e ilustrações cheias de vida e movimento, Da minha janela é um convite a todos os leitores para olharem para as vidas que nos cercam mas, muitas vezes, passam despercebidas. 

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Escrito por Otávio Júnior e ilustrado por Vanina Starkoff, o livro é curtinho, mas muito rico. Assim que o recebi, já me apaixonei pela capa: as cores, os elementos tão característicos de bairros da classe baixa brasileira já nos trazem a ideia de proximidade, como comentei no início desse parágrafo. E o personagem principal, sentado à janela, aproxima-nos mais ainda.


Texto e imagem se completam nas páginas deste livro, mas as ilustrações ganham um destaque. É possível ficar horas analisando cada pedacinho comum em nossas casas, bairros e vizinhos, como a típica caixa d’água azul, vasos de plantas nas janelas, cortinas coloridas e floridas, festa na laje, as senhoras na calçada, gatos pelos telhados. Pra mim, a leitura foi completamente nostálgica: apesar de ter morado em bairros de classe média, toda a minha infância foi num conjunto bastante popular (inclusive, voltei a morar nesta mesma casa em 2015 e estou aqui até hoje). Os relatos do que é visto da janela do personagem foram muito próximos para mim, trazendo lembranças de quando brincava na rua, por exemplo.


Lembrando do que Chimamanda Ngozi fala em sua palestra “O Perigo de uma História Única”, gosto do livro justamente por apresentar a realidade das favelas e bairros populares brasileiros, sem o estereótipo de perigo e extrema pobreza. Além do mais, é importante que nossas crianças, ao terem acesso a literatura, tenham realidades próximas as suas, enxerguem a si mesmas nas páginas de um livro. Por isso que as ilustrações me deixaram tão apaixonada, pois a diversidade de cores, pessoas e gênero é maravilhosa.

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E, apesar dos estereótipos terem sido deixados de lado, não quer dizer que o autor não se atentou ao trabalhar a violência nas nossas favelas. Devo dizer, inclusive, que achei sensacional a sutileza em que foi apresentada, afinal, é um livro para crianças. Nós sentimos e compreendemos, pois, somos adultos e sabemos o quanto a violência tem atingindo os bairros mais pobres do nosso país, acarretando, infelizmente, na morte de crianças com cada vez mais frequência.


“Da minha Janela” é uma leitura para crianças, mas principalmente, para adultos. Rico, em nostalgia, em ilustrações e em relatos, o livro nos aproxima da realidade brasileira e nos faz desejar parar um pouco, sentar à janela, e admirar a paisagem singular que temos. Afinal, nenhuma janela do mundo tem a mesma visão. Vemos cores, traços, gestos, objetos e bichos diferentes a cada ponto de vista.

Vamos abrir nossa janela e deixar que vidas diferentes ou próximas das nossas nos ensinem – e, quem sabe, possamos ensinar, também.

 E aí, já leu? Gostou da resenha? Conta aí. :)

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