Das cotas raciais ao genocídio negro: ‘M8: Quando a morte socorre a vida’ e a análise necessária do racismo no Brasil

 



O ano de 2020 trouxe consigo o forte debate sobre racismo nos Estados Unidos após a morte de George Floyd em uma abordagem policial violenta. O caso tomou proporções mundiais e reascendeu o debate da violência policial no Brasil quando se trata de jovens negros. O que muitas pessoas parecem não perceber, no entanto, é que o assunto tem sido discutido há anos pela comunidade negra brasileira, principalmente diante das estatísticas, onde um jovem negro é morto a cada 23 minutos no nosso país, conforme dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Na quinta-feira, 3, o filme M8: Quando a morte socorre a vida estreou nos cinemas de todo o país. Dirigido por Jeferson De, o filme é uma adaptação do livro homônimo do autor Salomão Polakiewicz e conta a trajetória de Maurício (Juan Paiva) um jovem que acabou de entrar na faculdade de medicina e precisa lidar com questões muito mais complexas do que a anatomia humana. Maurício, o único aluno negro da turma e cotista, se vê muito mais familiarizado com os cadáveres que precisa estudar do que com os colegas de classe. M8 (Raphael Logam), que deveria ser apenas mais um cadáver a ser estudado pelos alunos de medicina e depois transferido para uma vala comum da prefeitura, muda o rumo da vida de Maurício após uma forte conexão espiritual entre a alma de M8 e o estudante.

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Quem era M8 antes de sua morte? Por que todos os corpos estudados pela universidade são negros? O filme, que levou o prêmio do público de melhor filme de ficção no Festival do Rio em 2019, retrata as dificuldades de ser o primeiro negro em ambientes majoritariamente brancos, e como cotas raciais ainda não são o bastante para democratizar a educação superior no Brasil. A violência policial e a negligência do estado, mesmo após a morte, com pessoas e corpos negros também é retratada, escancarando o quanto ainda somos arcaicos em direitos igualitários, apesar do empenho de políticos e governantes ao afirmar que não existe racismo em nosso país.

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Com Mariana Nunes, Zezé Mota, Ailton Graça, Lázaro Ramos e considerado pelo diretor como “o elenco dos sonhos”, M8: Quando a morte socorre a vida, com 88min de duração, tem o tempo como seu único defeito. Um filme curto, repleto de ancestralidade e que escancara a realidade dos 54% da população negra que, sendo maioria, continua lutando para ser tratada como gente num país que ainda finge que não os escravizou.



Ainda não assistiu o filme? Já está disponível em cinemas de todo o Brasil.

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